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José Luis Oliveira / Adriana Gomes Oliveira
Os naturalistas reforçam a idéia de que as aves cantam por causa de seu bom estado de ânimo. Resultado difícil conciliar uma interpretação excessivamente sentimental do canto das aves. Ao cantar, uma ave está consumindo tempo e energia, que poderiam servir para buscar alimentos, ao mesmo tempo em que anunciam sua presença aos predadores. As aves teriam deixado de cantar a muito tempo se o valor de sobrevivência desta manifestação sonora não superasse os perigos que enfrenta.
O canto é tão somente um dos elementos do vocabulário das aves. Aliás, cada espécie possui seus próprios gritos: mais de uma dezena de sons diferentes em muitas espécies, cada um com seu significado.
Às vezes é difícil estabelecer os limites preciosos entre o canto e o chamado. Porém o canto está relacionado principalmente com a defesa do território ou com a atração de um companheiro, enquanto o objetivo do chamado consiste em transmitir outros tipos de informações, como, por exemplo, avisar a aproximação de um predador. Os cantos tendem a ser um complicado arranjo de notas, emitidas de um modo rítmico, a maioria das vezes pelo macho. Os chamados consistem em um grupo de solos curtos de quatro ou cinco notas, menos agradáveis pelo menos ao ouvido humano.
Uma ave é capaz de transmitir muitos dados com os sons que articula, pode indicar sua espécie, sexo, identidade individual e inclusive sua condição. Pode desencadear excitação sexual, curiosidade, desassossego ou temor à outra ave. Por meio desses sons pode também atrair um semelhante ou afugentar um rival. Aliás, pode transmitir notícias: onde se encontram alimentos e onde tem um lugar para aninhar.
Também pode avisar aos demais a presença de um predador. Porém, quando canta, uma mensagem habitual que transmite a ave é a proclamação de seu território.
Ao iniciar a época da criação, existem dois instintos que dão forma a vida de muitas aves; o de estabelecer um território e o de buscar um semelhante. O canto, em seu caráter de idioma que transmite informação de uma ave a outra, faz possível o objetivo.
A maioria das espécies que canta pode distinguir-se uma da outra pelo canto e de fato, isto constitui uma função vital do mesmo. Com o tempo, o canto de uma ave revela o sexo a que pertence (geralmente se trata de machos); O canto se interpreta de modo distinto, segundo o sexo do ouvinte. Assim, o mesmo churriar das fêmeas solitárias e recusam os machos intrusos. Porém o canto de uma ave proporciona detalhes mais sutis mediante variações imperceptíveis na tonalidade, ritmo e repertório, pode expressar também a identidade individual da ave. Os cantos territoriais são avisos de longo alcance de uma ave para outra. Devem ser fortes e claros para terem eficácia e desde então, suficientemente intensos como para demarcarem as alas dos territórios.
Por regra geral, quanto menos chamativa é a plumagem de uma ave, mais sonoro é seu canto. As aves que vivem e procriam em terrenos com vegetação densa/espessa, tende a cantar com mais energia, força do que as que habitam em zonas abertas. Levando em conta o tamanho da ave, o canto resulta em um coro incrível e penetrante, porém o coro, que defende um território ou uma área, tem que se fazer ouvir com competência por muitas outras aves que vivem nos bosques densos.
O canto também deve ser suficientemente persistente para surtir efeito.
Numerosas espécies elegem pontos do canto em lugares elevados das árvores, para assegurar de que seu canto abranja as zonas mais amplas possíveis. Outros adotam um efeito visual descrevendo trajetórias no ar. Os cantos em vôo são especialmente, características das aves terrestres que criam em terrenos abertos e sem árvores.
É muito raro que as aves rivais recuam o combate físico, visto que o risco de produzir autênticas lesões é grande para que represente um modo prático de solucionar um problema. No lugar disto, vão desenvolvendo uns modos de comportamento com os quais obtém resultados sem se exporem a muitos perigos. Seus cantos territoriais e suas complicadas exibições intimidam, constituem batalhas de nervos e cada ave alivia a tensão acumulada por meio de impulsos contraditórios: o impulso da luta e o impulso da fuga. Um filhote que se introduz no terreno alheio procura fazer o menos ruído possível. Se o proprietário do território o ouve, é mais provável que cante com uma intensidade especial e o expulsa imediatamente de seu próprio terreno, se não é assim, apóiam o canto com posturas agressivas. A continuação pode ser perseguição e se todos decidem, as aves chegam à luta.
A ave que canta em defesa de seu território presta uma cuidadosa atenção aos cantos das outras que defendem a família. O filhote, por exemplo, se detêm em casa frase de seu canto, permitindo assim, que seus rivais "contestem". Mediante os "duelos" de cantos que mantêm com seus vizinhos (semelhantes), a ave conhece o local onde encontram seus rivais, se tem alguma probabilidade que o maltrate ou se pode tranqüilamente ignora-los.
O canto das aves está intimamente ligado às estações do ano, apesar de algumas delas poderem cantar em quaisquer épocas do ano, nunca cantam tanto como na primavera, quando estabelecem seus territórios. Ao se aproximar o verão e iniciar o acasalamento e a construção de seus ninhos, a postura, a incubação e a cria de seus filhotes, os cantos de muitas espécies se tornam mais intermitentes, tímidos ou inclusive cessar por um tempo. O canto da primavera surge como resposta às modificações que os hormônios provocam no organismo da ave, particularmente o aumento do tamanho de seus órgãos reprodutores, que se deve a maior número de horas de luz. No inverno, a maioria das aves emudecem, em geral a chuva e o mau tempo tendem a inibir o canto.
No ciclo diário, igual ao estacional, a luz é o fator principal que influencia no canto. O trânsito da noite para o dia produz o mesmo efeito no canto que a passagem do inverno para o verão. É durante o amanhecer que as aves cantam mais do que qualquer outro momento do dia. Não é fácil apresentar uma razão biológica para isto, até que existe alguma vantagem em que todas as aves cantem ao mesmo tempo, é que dessa maneira cada uma se intera do que está acontecendo em seus arredores e onde se encontram seus rivais.
As aves também empregam o que podemos denominar "avisos e chamados". A maioria das aves vive em perigo constante de ser abatidas por seus predadores. Não nos surpreende, portanto, que em sua linguagem estão incluídas um sistema de alarme eficaz contra os predadores. A primeira ave que detecta um perigo faz soar o alarme de que põe sobre aviso todas as outras que podem ouvir.
O perigo que pode proceder do ar ou do solo e muitas aves, adotam gritos de alarme que distinguem ameaças. Os alarmes que chamam a atenção sobre os predadores aéreos devem ser breves e agudas e constituem um tipo de som difícil de localizar. As aves ouvem este alarme e se dispersam, prevenindo-se do perigo. Porém, o chamado de alarme para e opor ao predador terrestre, contém pistas referentes à localização da ave e do predador. Apesar do canto de cada espécie ser sempre muito distinto para que não surjam confusões, seus gritos de alarme soam sempre muito parecidos. A ave que primeiro detecta um homem avisa sozinha as aves de sua espécie, destinando a todas as demais para que possam ouvir. As aves geralmente herdam de seus progenitores um vocabulário completo de cantos e notas de chamadas.
Outras aves possuem a mesma habilidade inata para interpretar os cantos característicos de sua espécie com perfeição, salvo alguns detalhes. Nestes casos, a aprendizagem completa da tarefa começa, pelo instinto. A primeira vez que as aves jovens estabelecem um território, seu canto geralmente é incompleto, porém logo começa a imitar os outros machos que cantam ao seu redor. A aprendizagem por imitação é um dos grandes mistérios do comportamento das aves. Muitas delas incorporam, a seu canto, notas de outras e incluem seus próprios sons produzidos por objetos inanimados.